Este é o tema do mês. Com o aproximar dos meses em que se realizam as várias competições e à medida que são anunciadas as várias datas e provas, surgem sempre as opiniões favoráveis e desfavoráveis sobre a existência de competições de Jogo de Pau Português.
As opiniões desfavoráveis argumentam que não revêem a sua modalidade nas competições, que a técnica é alterada e se perde a identidade do Jogo do Pau Português.
As opiniões favoráveis argumentam que o tempo de desafios e duelos na rua já acabou e é necessário acompanhar os tempos, dotando o JPP de uma vertente competitiva que permita a aproximação das camadas jovens da modalidade.
No meu entender ambos os lados tem razão.
Existem efectivamente perigos na criação e desenvolvimento de um quadro competitivo e numa competição que pode desvirtuar a técnica como aconteceu com outras artes marciais. Veja-se o exemplo da esgrima olímpica que hoje pouco ou nada tem a ver com o combate real de espada.
É inegável que todos os atletas que colocam as protecções para o seu primeiro combate se sentem protegidos, deitam fora a técnica e só pensam em atacar. Aconteceu comigo e aconteceu com alguns dos meus alunos, naturalmente que com o tempo e com as recomendações certas voltou a preocupação com a utilização correcta da técnica e táctica em combate, permitindo tirar partido das mesmas.
Também é inegável que uma arte marcial sem as camadas jovens a aderir e sem uma forte renovação de praticantes tem tendência a desaparecer.
Não precisamos de ir muito longe para ver um exemplo disso mesmo. Podemos estar esquecidos ou distraídos mas em tempos existiu uma arte marcial portuguesa chamada Galhofa, os mestres desta arte morreram sem passar o conhecimento e apesar de algumas tentativas de a recriar, nunca passarão de exercícios teóricos com interpretação de relatos e histórias.
O Jogo do Pau Português dispõe de mais informação escrita e filmada do que a Galhofa e talvez não desapareça, mas se pensarmos no número de atletas a praticar hoje as perspectivas não são famosas.
Deixo mais considerações deste género para os leitores. Se a existência ou desenvolvimento da modalidade pode ou não passar pela competição, cada um vai tender para o seu lado.
Penso no entanto que existe um factor que nos une a todos, a preocupação com o desenvolvimento da modalidade e a vontade de preservar a identidade da mesma, a sua génese e eficácia em combate. Seja qual for a Escola ou vertente do JPP todos queremos que se mantenha e se proteja a sua identidade. Este é esta vontade de preservar a nossa arte marcial que nos deve unir e é por este que devemos todos trabalhar para que todas as vertentes do JPP sejam valorizadas e trabalhem para a divulgação e expansão da nossa arte marcial.
O Jogo do Pau Português é arte marcial, é representação, é tradição, é cultura e é também competição.
Pessoalmente sou favorável à existência de competição, o que não quer dizer que considere a competição nos moldes actuais como o modelo ideal. Penso que ainda não encontramos esse modelo,… mas isso não me afasta da competição, pelo contrário, esse é o meu motivo para continuar a envolver-me nas competições de JPP. Temos uma base de trabalho, campeonatos e torneios com atletas a participar. Este modelo tem crescido e mudado de ano para ano na procura de um modelo melhor, e para que continue a melhorar todos os contributos são importantes.
Por outro lado, também existem vantagens técnicas na existência e participação em competições.
O meu interesse nestes eventos não é inocente, tal como os antigos varredores de feiras iam de terra em terra desafiar outros jogadores para testarem e melhorarem a sua técnica também hoje, é essencial para o desenvolvimento técnico do atleta de Jogo do Pau Português ver o seu treino confrontado contra o treino de um ou mais oponentes. Não nos podemos limitar ao jogo a média velocidade e esperar que numa situação de combate real tudo funcione mas também não podemos andar por aí a desafiar tudo e todos para combates a sério. Pelo menos para mim passar uma temporada na cadeia ou hospital não me dá muito jeito, pelo que a realização de competições organizadas me parece um meio termo,… um compromisso que juntamente com outros tipos de treino nos ajudam a melhorar.
Treino com varas de madeira, sarilhos, formas, séries , jogo e competição são ferramentas de treino que devemos usar na medida certa.
Existe mais uma vantagem na criação destes eventos, esta vantagem não é particular do JPP, é mais profunda, prende-se com a identidade nacional…. Nada como aproveitar estas ocasiões para o tradicional convívio à volta de uma mesa bem servida e regada,…
Opá… somos treinadores, atletas, mestres ou apoiantes,… mas também somos Portugueses, e para trocarmos ideias, experiências, preocupações ou piadas, tem de ser à mesa!!!
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