Coloco este post com a consciência de que vou fazer saltar a tampa a muita gente… mas não quero saber. Venham as críticas, comentários e insultos, mas já agora lembrem-se que aqui treinamos com varas de madeira, treinamos a bater para o corpo e, normalmente, sem protecções.
Para mim, esta é a questão do dia para quem decide praticar desporto e está indeciso sobre ir para um ginásio ou para uma arte marcial.
Para mim, esta é a questão do dia para quem decide praticar desporto e está indeciso sobre ir para um ginásio ou para uma arte marcial.
Se o teu objectivo é ter um corpinho para a selfie ou para mostrar na praia ou ginásio, as artes marciais e desportos de combate não são para ti… Inscreve-te num ginásio, de preferência com um “PT” a quem te possas referir por “o meu PT”, e toca a subir degraus, correr em passadeiras fixas ao chão enquanto acompanhas um canal de música, levantar ferro, etc… Terás os teus dias de pernas, braços, costas, etc… E, para não ser monótono, até podes escolher uma variedade de “modalidades” em formato de classes em que a música alta e os gritos de incentivo rivalizam com o nível sonoro de qualquer discoteca ou jacto 747 da Boeing. Faz isto e serás feliz para sempre, porque os ginásios até estão cheios de espelhos para te permitir tirar 3 selfies antes de cada exercício.
Calma… não comeces já a escrever o “hate mail”, de certeza que ler mais umas linhas não te vai fazer mudar de ideias e ainda encontras mais razões para escrever em maiúsculas e colocar uns smiles zangados…
Reparem que nada tenho contra o objectivo de tonificar o corpo como um/uma modelo, este é um objectivo válido, respeitável e com excelentes resultados, tanto em termos de forma física como em termos de massa muscular ou mesmo confiança (quando consegues atingir os teus objectivos)… mesmo porque os meus olhos também “comem” e até gosto de acompanhar algumas das fotos que colocas no Facebook, Instagram…
A este tipo de treino chamo trabalhar a forma.
As artes marciais e/ou desportos de combate, mais especificamente o Jogo do Pau Português (que no meu entender abrange as duas categorias, mas não vou desenvolver esta parte, porque por si só já ia gerar o seu próprio hate mail), necessitam de um treino diferente, trabalham sobre a função.
Passo a explicar: quando entras num treino de uma “arte marcial” vais encontrar um grupo de pessoas a aprender ou treinar sobre a orientação de um professor, (mestre, instrutor, etc…), e normalmente ninguém te fala sobre se vão treinar pernas, braços ou outra parte do corpo. Vais treinar aprender uma técnica, para a executar no tempo certo, na velocidade certa, vais treinar para aguentar mais um segundo de combate, vais treinar para defender um pouco mais rápido ou para atacar com mais precisão.
Este treino que visa a execução de uma tarefa, de uma aprendizagem ou estratégia de vida, também tem a sua componente física, e como tal o resultado será mais músculo, articulações mais resistentes, maior capacidade de gerir esforço físico, respirar… E com a melhoria da forma física e do desempenho biomecânico, além da superação constante dos objectivos a que te vais propondo, naturalmente vai surgir um aumento de ego, confiança, saúde…
No entanto, o teu aspecto físico será resultante do trabalho que realizaste, a massa muscular e a forma física em geral serão o resultado das funções que aprendeste e optimizaste, e também da modalidade que praticaste.
A este tipo de treino chamo trabalhar para a função.
Neste artigo chamo a atenção para o tipo de treino corrente de uma Arte Marcial vs Ginásio, não quer dizer que os praticantes de artes marciais não façam umas horas de ginásio, e não tenham as mesma preocupações estéticas, mas refiro-me principalmente à base de treino e à filosofia com que estes treinos são planeados e executados.
Artigo Escrito por:Ricardo Moura – Cascais, Portugal
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