Devemos ter sempre em atenção que usar um varapau com aproximadamente 1,5m nos confere a possibilidade de atingir um adversário à distância e defender qualquer ataque que nos seja dirigido, tem no entanto as suas vantagens e desvantagens.
A nossa técnica contempla todos os aspectos inerentes a esta condição: a movimentação, o tempo e a distância devem ser sempre treinados, repetidos, testados e aperfeiçoados de modo a que estas desvantagens sejam anuladas e se tire total partido do uso da nossa arma.
Neste artigo, abordamos a distância no Jogo do Pau Português em situações de 1 para 1, com varas de madeira, não tendo em atenção outros aspectos como o espaço envolvente, obstáculos, oponentes com armas de tamanhos diferentes da nossa e outras potenciais ameaças ou oponentes. Podemos abordar esses aspectos em artigos posteriores.
Distância no Jogo do Pau
A distância é um dos aspectos mais desenvolvidos e treinados na nossa escola, sendo que a sua importância é transversal a todas as escolas de Jogo do Pau Português e mesmo a outras artes marciais com armas. Na nossa escola, este estudo foi realizado ao máximo detalhe e testado em situações de combate real.
Conforme referido acima, só através do treino e da compreensão das particularidades técnicas do uso de uma arma (varapau), com uma dimensão aproximada de 1,5 m, se pode atingir o total partido da nossa técnica e, consequentemente, tirar partido da eficácia técnica inerente à modalidade. Neste artigo, focamos apenas um dos aspectos que deve ser considerado ao manusear esta arma, nomeadamente a distância. No entanto, este factor só faz sentido quando utilizado em conjunto com outros, como o tempo de defesa e ataque ou a táctica de combate, entre outros…
O primeiro conceito a entender no que respeita à distância é que não se trata de uma medida fixa, existem ao longo do nosso combate várias “distâncias” que temos de ter em atenção, o combate não é um exercício estático, consiste em várias movimentações, na procura de pontos fracos ou aberturas por parte do adversário, na procura de distâncias mais seguras, e, naturalmente, em ataques, contra-ataques e defesas.
Distância de defesa
Área que nos envolve e dentro da qual não podemos permitir que a vara do adversário entre. Esta distância é normalmente medida entre o nosso corpo, mais especificamente a zona do nosso corpo que está a ser atacada, e a ponta da nossa vara (área da vara que intercepta a vara do adversário).
É indiferente para o caso se estamos a movimentar-nos no sentido oposto ao ataque (afastando-nos do atacante – sair ou recuar), ou se estamos a fazer uma defesa em deslocação no sentido oposto ao do ataque (aproximando-nos do atacante – avançar ou crescer), a questão base mantém-se: temos de garantir que interceptamos o ataque do adversário com a ponta da nossa vara à maior distância possível da área do nosso corpo que está a ser atacada.
Distância de ataque
Distância máxima que nos permita atingir o adversário com a ponta da nossa vara, e sair rapidamente para uma defesa segura. Esta medida é bastante simples de medir: se com os braços esticados a segurar numas das pontas da tua vara consegues atingir o adversário com a ponta mais afastada da tua vara, estás à distância certa. Não nos interessa que esta distância seja mais curta por várias razões:
- Se consegues bater com a ponta da tua vara, já estás a bater com a máxima velocidade e a causar o máximo dano, quanto mais perto de ti estiver a área de impacto menos força/ velocidade terá o ataque;
- É possível que o adversário defenda o teu ataque, e nesse caso convém estares a uma distância que permita uma defesa segura;
- No limite, o teu adversário pode ficar muito perto a um distância em que a pancada se torne muito fraca e defensável mesmo com as mãos/braços e entrar na luta corpo a corpo.
Distância de combate
Distância ao adversário que nos permita colocar-nos rapidamente à distância de lhe bater (distância de ataque), ou deslocar-nos para uma distância que permita uma defesa em segurança (distância de defesa). É importante ter em atenção que a deslocação para a defesa não pode ser tal que impossibilite o contra-ataque ou o torne demasiado lento, a distância durante o nosso movimento defensivo deve ser a mínima/suficiente para permitir a defesa e um contra-ataque rápido que atinja o adversário.
Em resumo, devemos sempre treinar do modo que mais se aproxima a situações de combate real, só treinando com ataques ao corpo podemos mecanizar os nossos ataques e só recebendo esses mesmos ataques podemos treinar defesas eficazes.
Facilitar a vida ao nosso adversário com ataques curtos (distâncias erradas) ou facilmente defensáveis prejudica o nosso treino, levando à mecanização de movimentos técnicos errados e ineficazes, mas também prejudica o treino do nosso parceiro dando-lhe uma falsa noção de segurança e a mecanização de defesas com distâncias erradas.
- as fotos deste artigo foram tiradas por atletas da Esgrima Lusitana
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